Quando a candidata Marina Silva diz ser, pessoalmente, contra o aborto, mas ressalta que é a favor de um plebiscito sobre o assunto, porque esta é uma matéria importante e passível de discussão, ela não está, como alguns acreditam, simplesmente, “fazendo uma média” com os eleitores. Ela realmente acredita nisso e esse pensamento é fruto de sua formação progressista.
Para um progressista, que é irmão de sangue do relativista, não há verdades absolutas, ontológicas. O que existe são convicções subjetivas, as quais são válidas no âmbito individual. Se a matéria é de alcance coletivo, aí a verdade apenas pode ser alcançada pela coletividade, pelo consenso, pelo debate. Dessa maneira, é óbvio concluir que, para ele, não há verdades eternas, mas tudo é transitório, podendo, no máximo, ter certa regularidade, enquanto o consenso assim entender.
Para Marina, a questão do aborto pode ser apenas uma convicção pessoal, jamais porém uma certeza objetiva. Ela crê que não é correto, mas, ao querer colocar em debate a questão, demonstra que pode ser demovida dessa convicção se o consenso comum assim determinar. Para um político, não há nada mais conveniente. Talvez não exista nada mais difícil para alguém que dependa de votos de um universo tão diversificado de pessoas do que ter convicções perenes. Para ele, é muito mais prático que seu pensamento seja fluido e indefinido – algo que possa ser mudado com os tempos (James Orr).
Marina Silva é contra o aborto, mas...