Há um grande abismo de comunicação entre as pessoas. Por isso, eu sempre recomendo, aos meus amigos, que não se atenham ao que a outra pessoa disse, mas tente captar o que ela quis dizer.
Parece claro que a maioria dos problemas surge de uma má compreensão do que o outro quis dizer, o que significa, muitas vezes, uma perfeita compreensão do que ele disse.
Por exemplo, outro dia um amigo disse para outro amigo que sua relação com um terceiro amigo estava destruída. Palavras fortes, mas para quem conhecia o problema sabia que ela não estava destruída, mas apenas suspensa ou interrompida. Há uma grande diferença entre esses termos, e quem ouviu acreditou que havia ocorrido uma grande ruptura entre os dois, quando eles apenas haviam deixado de se falar, sem um motivo específico.
Outro caso foi de um colega que disse para minha esposa que contratava os seus serviços para lhe ajudar, dando a impressão que sua atitude era apenas filantropia. Eu, que acompanhava tudo, percebi que ele queria dizer que contratava minha esposa por confiança não apenas em seu trabalho, mas em seu caráter, e que ajudar significava, naquela conversa, o próprio ato de contratar por confiança, sem preocupação específica da qualidade de seus serviços, os quais ainda não havia sido demonstrada. É claro que minha esposa não gostou do que ouviu, porém, depois de conversarmos, ela percebeu que a intenção do colega não foi tão agressiva quanto parecia.
Se prestarmos atenção, testemunharemos, a todo instante, casos como esses. Com efeito, tudo isso ocorre porque o universo imaginativo anda restritíssimo, e junto com ele o vocabulário tem estado esmagado entre as paredes do mundinho medíocre de cada um. Por causa disso, quando o sujeito tenta se expressar, não raramente lança mão de palavras que, tomadas em seu sentido correto, não possuem o significado correspondente à sua intenção.
A consequência é que a pessoa fala algo que não quis falar, desejando expressar algo diverso. O receptor ouve a mensagem já distorcida e, muitas vezes, lhe dá um terceiro significado. O que resta, portanto, é a confusão.
Minha solução tem sido amenizar ao máximo o significado das palavras alheias, mesmo quando parecem absurdamente agressivas. Isso porque tenho percebido que aparentes agressões verbais têm sido emitidas com intenções bem menos violentas. No que depender de mim, busco ter paz com todos!
Infelizmente, esse é o fruto de um país mal educado, de pessoas sem instrução básica, que tentam se comunicar e apenas conseguem fazer isso com muito esforço e muitos defeitos.
Além do mais, para perceber tais desvios, é necessário estar acima do nível lamentável da educação brasileira geral. Para estes, que já escaparam da elementaridade, resta, portanto, muita paciência e uma boa capacidade de interpretação.
A dificuldade da comunicação