Após mais de 10 anos distante do ambiente acadêmico, e agora envolvido com a ministração de cursos teológicos, decidi, a fim de aprimorar meus conhecimentos na área pedagógica, retornar à faculdade e cursar uma pós-graduação. Por falta de tempo e com a ausência de cursos disponíveis na região onde moro, decidi me inscrever em uma faculdade de Curitiba, em um curso à distância. O curso chama-se Docência do Ensino Religioso e por ser ministrado em uma faculdade Batista, sobre um tema ligado à religião, acreditei que, no mínimo, a visão dos professores em relação, não apenas às matérias, mas à própria realidade, não poderia ser tão diferente da minha. Tomei coragem e segui em frente.
O primeiro módulo tratou da própria ferramenta de ensino à distância e, apesar de não ser um assunto tão teórico, nos textos disponibilizados já percebi a tendência construtivista seguida pela escola. De qualquer forma, ponderei que, talvez, aquela fosse apenas uma impressão, afinal, nada estava muito explícito.
Parti, então, para a confecção dos primeiros trabalhos propostos e qual não foi a minha primeira surpresa ao ver que havia recebido a nota máxima em todos eles. No entanto, ao invés de me alegrar, pensei: é provável que eles nem tenham lido os meus trabalhos ou sequer entenderem o que escrevi. Nos textos que entreguei, combati, frontalmente, toda a ideia construitivista que havia transparecido nos textos de estudo. Como os comentários dos professores em relação aos meus trabalhos haviam sido lacônicos, agarrei-me à primeira hipótese. Isso entristeceu-me, pois, claramente, o curso não apresentava a seriedade que eu esperava.
De qualquer forma, não desisti. Segui para o próximo módulo, porém, quase por inércia. A matéria agora era mais específica, mas já estava desanimado o bastante para não dar muita atenção a isso. O módulo chamava-se Docência no Ensino Superior. Mesmo sem motivação, fiz o dois primeiros trabalhos propostos. No entanto, preparei-os desleixadamente, nos últimos 30 minutos do prazo final, em uma lanchonete, enquanto conversava com meus amigos. Apesar disso, estava certo que seguiria recebendo a nota máxima, pois já estava certo que a faculdade só estava interessada no pagamento dos boletos (diga-se de passagem, enviados todos logo no início do curso).
Qual não foi a minha segunda surpresa ao ver que minhas notas haviam sido baixíssimas: 4,0 e 5,0. Ferido em meu orgulho, apressei-me em verificar os motivos para tão vergonhosas notas. Qual não foi minha terceira surpresa ao ver que a professora além de ter lido realmente meus textos, escreveu extensas argumentações justificando as notas. Apesar de ofendido, de alguma maneira senti-me feliz, pois o cuidado na avaliação fez-me ter a sensação de que a escola era realmente séria e que havia uma exigência de qualidade nos trabalhos. Como eu estava consciente de meu relapso ao fazer as tarefas, aceitei as notas, apenas ressaltando que não concordava com alguns pontos levantados pela professora. Prometi, então, que seria mais diligente na próxima tarefa.
E fui! Estudei a matéria, meditei sobre o assunto, li os textos disponibilizados e confeccionei o trabalho. Tomei o cuidado de manter um padrão acadêmico: citei autores, dei referências aos conceitos e demonstrei que havia estudado a matéria. Estava certo que havia cumprido bem a minha obrigação e estava certo que minhas notas retornariam ao patamar de outrora. Qual não foi a minha quarta surpresa ao ver que havia recebido a nota 6,0! E tal nota não fora dada, dessa vez, por algum problema técnico na confecção do texto, mas por ele não se adequar às ideias trazidas pela própria professora: construtivismo, relativismo etc.
Fiquei indignado e escrevi para ela exteriorizando não apenas a indignação que sentia, mas a minha frontal discordância. Foi, nesse momento, que lembrei-me de um conselho que o professor Olavo de Carvalho havia dado, mais de uma vez, aos seus alunos: que, quando um professor desse notas baixas para ele, simplesmente por não concordar com suas ideias, que esse aluno o expusesse, mostrando, inclusive para os outros estudantes, que esse professor sabe menos que ele. Assim, a partir dali, esse aluno receberia apenas notas altas daquele professor.
Decidi, então, usar o método olaviano de confrontação pedagógica. Nos fóruns e chats do curso não poupei ataques às teorias apresentadas, citando autores que conheço, expondo a fragilidade da ideia construtivista e apresentando algumas alternativas ao monopólio educacional proposto. Qual não foi a minha quinta surpresa ao ver que a professora não fugiu à luta, respondendo a todas minhas intervenções. Isso me foi maravilhoso, pois tive a oportunidade de expô-la quase sistematicamente.
Não colocarei aqui o inteiro teor de todos os debates, por respeito à professora e falta de espaço neste post. Mas colocarei uma síntese das ideias defendidas por ela e que representam bem o que andam defendendo dentro do ambiente acadêmico brasileiro.
A professora insistiu muito na experiência pedagógica como uma relação e, apesar de eu não negá-la por inteiro, discordei profundamente da amplitude dada por ela. Daí, passei a discorrer sobre a questão da verdade, do conhecimento do real, do valor da experiência pessoal, da consciência individual entre outras coisas. Entre as ideias que ela defende, destaco as seguintes:
- A verdade não existe, senão uma última verdade (que ela deu a entender que era Jesus Cristo);
- As outras coisas são apenas aproximação da verdade;
- Mesmo a última verdade só poderia ser alcançada pela fé (a qual, para variar, é algo irracional);
- A realidade é uma construção social;
- O conhecimento deve partir do aluno;
- A didática não é uma técnica, mas uma relação;
- Não há critérios objetivos de avaliação;
Quanto às minhas intervenções, pelas quais apresentei algumas propostas alternativas, apenas o silêncio como resposta. Apesar de a professora não ter sido covarde (e isso expus para ela, apresentando o meu respeito por ela não se esconder atrás de sua cátedra), claramente percebi que fora do âmbito construtivista, no qual ela teve sua formação, nada ela conhece e, por isso, não arriscou expor sua ignorância.
Segui, então, fazendo os meus trabalhos da mesma maneira e defendendo as mesmas ideias dos trabalhos anteriores. Qual não foi a minha sexta surpresa ao ver que minhas notas haviam sido 10, 10, 9,5 e 9,0! Diante disso, apenas posse exclamar:
- Grande professor Olavo! Seu método é realmente infalível!
Apenas uma coisa mais deixou-me incomodado. Nas discussões abertas que tive com a professora, nenhum aluno ousou dar sequer um pitaco. Isso apenas mostra o nível da universidade neste país. Mesmo em um ambiente no qual todas as pessoas são graduadas, formadas nas mais diversas universidades brasileiras, ninguém foi capaz de participar de um debate que, parece, estava bem além de seus universos imaginativos.
Ao fim do módulo, qual não foi minha sétima e última surpresa ao receber um e-mail da professora afirmando que eu era um aluno que todo professor gostaria de ter, que há muito tempo não havia sido tão provocada (no bom sentido do termo) e que todo aquele debate havia sido de grande valia para ela.
Se, no fim das contas, fiquei feliz por ter a minha honra lavada, é muito maior a tristeza por ter agora a certeza, pela experiência própria, que a educação brasileira está em ruínas.
Minha experiência na pós-graduação