quarta-feira, 4 de abril de 2012

O caos intelectual

O problema da geração atual é que está preocupada demais com o que sente e não com o que pensa. Quando ouvi essa fala atribuída à primeira ministra britânica Margareth Thatcher, no filme que conta sua história, “Dama de Ferro”, passei a refletir sobre ela. Não sei se a política inglesa disse isso mesmo, mas a ideia povoou a minha cabeça desde então. Comecei a observar que, realmente, mesmo entre pessoas consideradas cultas, o elemento definidor das ações e, até mesmo, dos pensamentos, não é a razão, mas o sentimento. Percebi que as pessoas defendem suas ideias não pela coerência intrínseca delas, mas por alguma questão mais emocional, que as liga a elas.

É óbvio que essa proeminência do sentimento destrói a coerência das coisas. Quando o sensível tem prioridade, não se pode mais esperar que os atos sejam justos. Isso porque o elemento motivador não estará fundamentado na coesão do pensamento, mas na impressão superficial.

O resultado disso é que não dá para confiar no que as pessoas defendem, pois suas escolhas, invariavelmente, estão mais ligadas aos seus afetos do que às razões. Mesmo pessoas instruídas acabam por agir baseadas no apego que têm a certos valores e ideias, manifestando que seus sentimentos são os definidores de seus atos e palavras. A coerência passa a ser apenas uma tentativa, a posteriori, de justificar suas escolhas.

Vejo isso na filosofia, na teologia, na religião e em tudo o mais que esteja envolvida a necessidade de um pensamento mais intelectualizado. A partir daí, tem início o que eu chamo de danças teológicas ou danças filosóficas, que nada mais são do que tentativas de logicização de uma escolha estritamente emocional. Após isso, toda a coerência exterior, ou lógica, perde sua confiabilidade, pois contaminada em sua raiz. Não me lembro de ter conhecido alguém que defendesse uma doutrina somente após o estudo de muitas outras. Invariavelmente, sua escolha é baseada em impressões e o restante de sua vida uma racionalização justificadora dessas impressões.

Dessa forma, a própria autoridade perde sua força. Ora, é muito comum, e saudável, que confiemos em alguns homens pela sua sabedoria e conhecimento. São como guias que, em meio às nossas trevas, indicam o caminho para trilharmos. São homens que deveríamos dar crédito, ainda que não compreendêssemos exatamente as razões. Seriam os desbravadores que, abrindo a mata do conhecimento, permitem que adentremos nela com os pés mais seguros. No entanto, quantos são os homens em quem, nesse sentido, podemos confiar? Sabendo que quase todos estão apenas refletindo suas escolhas e justificando-as, está cada vez mais difícil acharmos aqueles aos quais podemos chamar de mestres.

O resultado é o caos intelectual. Se não há autoridades confiáveis, cada um segue seu caminho, interpretando a realidade de seu jeito, e pior, normalmente cometendo o mesmo erro: priorizando o sentimento. Faltam líderes: homens que, desapegados do espírito de grupo, dos compromissos sociais e da aprovação dos pares, se tornem referências para as quais podemos olhar e confiar.