sábado, 30 de junho de 2012

A religião do homem

O cristianismo existe para ti, saibas isso. Para quem tu achas que Cristo padeceu na cruz? E sua encarnação, não ocorrera por ti? Se há uma redenção, não há para te redimir? Jesus não morreu pela humanidade sem rosto, sem identidade. Não foi pela multidão que Ele entregou seu espírito. O que Cristo fez, o fez para homens individuais, para seres únicos.

Se Ele ensinou a amar o próximo, este não pode ser uma abstração. O próximo é aquele caído na estrada, o qual possui um nome, uma história, uma vida. Os inimigos a serem amados também não são um amontoado do outro lado, mas cada alma individual manifestada na relação contigo.

Se prestares bem atenção, verás que jamais Deus se relacionou com os grupos. A salvação é para o indivíduo, a fé só pode ser exercida pelo indivíduo. O amor e as virtudes não se expressam em atos coletivos, mas no movimento da caridade individual que, concretamente, atinge outro ser individual. Não existe consciência coletiva, isso é uma fantasia. Há apenas homens que pensam, que agem, que falam e que se relacionam com Deus.

Quando diz-se que Deus é um ser pessoal, isso não apenas é um atributo, mas uma forma de agir. Sendo pessoa, se relaciona com pessoas. E estas pessoas precisam ser reais, ter consciência própria, ser indivíduos, enfim. As instituições, os entes jurídicos, os grupos religiosos, a personalidade que possuem é uma ficção. Eles não pensam, não falam, não agem. São dirigidos, sim, por homens que, em suas individualidades, direcionam seus caminhos.

Enquanto enxergares o cristianismo como uma religião apenas, não compreenderás nada de sua proposta. Aliás, se fosse uma religião, se pudesse ser identificada por sua manifestação, então não se diferenciaria de qualquer outra. Até mesmo ter Deus como o objeto do cristianismo é o mesmo que fazê-lo concorrer com outros deuses. As outras religiões têm seus deuses, oferecem seus sacrifícios, sua adoração, sua devoção. Elas têm seus ritos, seus cultos, suas formas de louvor. Tudo isso, no entanto, são manifestações exteriores, impróprias para demonstrar o verdadeiro sentido do que quer que seja.

Mas o cristianismo não se trata de culto. Nem mesmo de Deus. Menos ainda de adoração exterior. O cristianismo, com sua proposta e sua promessa, existe unicamente por causa do homem. Para ele Cristo veio ao mundo, ensinando, sofrendo e morrendo. Por ele venceu a morte e para ele concedeu sua vitória. Deus mantém-se inalterado. Nada existe para Ele, mas tudo por Ele. Não foram os homens que criaram Deus, nem mesmo podem elevá-lo de alguma forma. Deus é o mesmo, e sempre será. Então, se há uma religião, alguns dogmas, alguma doutrina, existem não para exaltar Deus, que já está exaltado acima de tudo, mas para direcionar o próprio homem.

Por isso, se queres conhecer o cristianismo em seu sentido mais profundo, esquece as formas exteriores. Elas existem, sim, mas apenas como símbolos. E símbolos somente apontam para a realidade. No caso, uma realidade transcendente. Se queres entender a proposta cristã olha para ti mesmo, identificando o valor que possuis para o próprio Deus. Não pelos teus méritos, nem por tuas obras, mas, unicamente, por tua constituição eterna, criada pelo próprio Deus.

Tu és semelhante a Ele. Tens, em teu ser, a indestrutibilidade que não existe em qualquer outro ser terreno. Por isso, és mais importante que os grandes impérios, que os Estados, as nações e os povos. Mesmo em suas grandezas, todos ruíram ou irão desaparecer. Mesmo a Terra acabará. Sim, todos passarão. Eles não possuem uma alma eterna, como tens. Apenas tu viverás para sempre.

Dessa maneira, se quiseres entender esta tua vocação, se desejares compreender o valor que tens para Deus, se tencionares perscrutar a resposta do que Ele espera de ti, mergulha em teu próprio ser, imerge nas profundezas de quem és, onde tu és menos afetado pela confusão dos aspectos alienantes da realidade visível e lá, em segredo, conversa com o Senhor de todas as coisas, ouve sua voz e compreende a importância que tens para Ele, espírito imortal que és.