sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Diário Teologosófico

Se rasgou-se o véu, e o sacerdote fora inutilizado, o que ficou foi a relação direta entre a alma e o Absoluto. A viagem, então, tornou-se solitária. O que é a Igreja, portanto, senão a assembléia de solidões? Sendo assim, quanta perda de tempo no falatório inútil da unidade, da coletividade, da mobilização. O que importa mesmo é a força mútua de solitários que se auxiliam no encontro individual com Deus.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Diário Teologosófico

Há muitas formas de heroísmo. Entre as maiores está a de ser pai ou mãe e ser responsável pelo sustento e educação de seus filhos. Feliz é o homem e a mulher que enxerga essa missão como uma verdadeira vocação divina. Triste daqueles que vêem isso apenas como uma obrigação inescapável. Perguntaram, um dia, por que as pessoas comuns não se mobilizam contra os avanços dos grupos ideológicos. A resposta é simples: elas vivem a batalha heróica de viver a vida para os seus, não permitindo que se percam.

Diário Teologosófico

Percebo que boa parte das preces, das orações, são manifestações de desejos, ditas como se realidades fossem. São vitórias e certezas desejadas, porém não experimentadas. Isso não teria nada de ruim se aquele que faz a oração percebesse isso. O problema é que, normalmente, ele se engana, e mente para si. Fala de certezas que não tem, fé que não vive, confiança que não sente. Não seria muito melhor se dirigir a Deus com toda a honestidade possível, expondo seus temores, fraquezas e desvios? Afinal, Ele é onisciente, não? O compromisso com a verdade passa também por aí.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Diário Teologosófico

Encontrar a própria vocação é o que traz a verdadeira realização. Descobri que a minha é ensinar e isso me faz realmente feliz. Mas não ensino como um catedrático. Prefiro transmitir mais meu estado de espírito* do que minhas informações. Ali, à frente da sala, é onde sou eu no sentido mais profundo.

* como escreve Constantin Noica em seu diário.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Deus expulso das escolas: a instalação do caos

Não sejamos ingênuos. Uma escola sem Deus não significa uma escola livre. Não significa que ela se torna imparcial. Aliás, a própria imparcialidade é um ideal utópico, uma cortina de fumaça para a imposição dos interesses mais medonhos. O que fica vazio é ocupado; e quem ocupará as escolas?

sábado, 26 de novembro de 2011

Reconhecer-se perdido

Sentir-se perdido, por mais paradoxal que pareça, é o primeiro passo para encontrar-se. Isso porque, na verdade, de uma maneira ou de outra, todos estão perdidos. Acontece que alguns percebem isso, enquanto outros permanecem alienados na certeza de terem achado a resposta de todas as coisas.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A Docta Ignorantia

A possibilidade de o homem poder sempre se aperfeiçoar, de sempre evoluir em seu conhecimento e sua consciência, talvez seja o principal atributo que o torna superior a todo o restante da criação. Enquanto os outros seres crescem até determinado ponto, o ser humano ainda não conhece os limites de sua potencialidade.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Além de seu tempo

"Para um homem se dispor a empreender uma obra que ultrapasse a medida das absolutas necessidades, sem que a época saiba uma resposta satisfatória à pergunta 'Para quê?', é indispensável ou um isolamento moral e uma independência, como raras vezes se encontram e têm um quê heróico, ou então uma vitalidade muito robusta"

Thomas Mann, em "A Montanha Mágica"

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Somos como o vento

"O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito" João 3.8

Tentar controlar todos os aspectos de nossa vida pode se tornar algo bastante cansativo, senão frustrante. Com o tempo, aprendemos que não temos força para alterar praticamente nada nem mesmo em nós mesmos, quanto mais nos outros ou nas coisas que nos rodeiam.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Uma geração enganada e corrompida

Saiu, no portal G1, essa notícia peculiar 

(http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2011/08/estou-sem-chao-diz-mae-de-garoto-que-marcou-encontro-pela-web.html): 


um menino, de 13 anos, após ter ‘informado’ sua mãe de que era homossexual, em uma tarde de domingo avisou-a que iria sair com umas amigas quando, na verdade, teria marcado, pela internet, um encontro com 2 homens que, após dopá-lo, teriam abusado sexualmente dele.

sábado, 30 de julho de 2011

Os males da vida dupla

Um princípio elementar para a restauração de uma alma abatida é o resgate da verdade em sua vida. Muitas vezes, as pessoas se acostumam com um cotidiano cercado de ilusões, de falsidade, de máscaras. Desde muito cedo somos acostumados a representar papéis na sociedade, a fim de bem convivermos com as pessoas. Acontece que esses papéis, invariavelmente, não refletem nossa verdadeira personalidade e entram em conflito com o que nós percebemos.

terça-feira, 26 de julho de 2011

O caso do Norueguês que matou mais de oitenta pessoas em uma ilha de seu país é emblemático, porém, menos pelo modus operandi do atirador e pelas motivações que parecem tê-lo conduzido ao feito, do que pela reação midiática ante a tragédia.

terça-feira, 19 de julho de 2011

"Algumas formas de homossexualismo de hoje são de natureza tal que não se limitam ao homossexualismo somente, mas representam uma forma de expressão filosófica. Precisamos ter compreensão para com o real problema da homofilia. Mas grande parte da homossexualidade moderna é expressão da atual negação da lei da antítese. Neste caso, isso levou à negação da distinção entre homem e mulher. De modo que se extinguiu a ideia de macho e fêmea, vistos como parceiros complementares (...) Para grande parte do pensamento moderno, a ordem do dia é combater todas as antíteses e toda a lógica da criação divina - inclusive a distinção macho/fêmea. A pressão do unissex está fortemente enraizada aqui. Mas não uma questão isolada; faz parte do espírito mundial, da geração que nos rodeia. É imperativo que os cristãos percebam as conclusões que estão se delineando em consequência da extinção dos referenciais absolutos".

terça-feira, 12 de julho de 2011

Vivemos em uma sociedade intermediária

Há tempos, o mundo tem trabalhado a fim de diminuir a influência cristã na sociedade, atacando, prioritariamente, os fundamentos postos pelo cristianismo, os quais tornaram a civilização ocidental, se não em um paraíso, ao menos em lugar de gente civilizada.

Tantos movimentos se passaram (iluminismo, positivismo, pragmatismo, materialismo, comunismo, marxismo entre tantos outros), os quais, de uma maneira ou de outra, militaram contra o cristianismo, que torna-se uma tarefa inglória tentar descrever todos eles. O que fica claro é que há muito tempo o sistema mundano tenta apagar a influência cristã sobre a sociedade.

Nos séculos passados, no entanto, parece que a eficiência do trabalho de destruição sempre fora limitado. Apesar dos estragos nacionais, dos morticínios e das mudanças sociais, de uma maneira ou de outra a família e a religiosidade do povo sempre se mantiveram firmes. Os modernismos sempre foram coisas de intelectuais, ficando a plebe meio que imune às suas influências.

De maneira diferente ocorre hoje, pois, com a expansão da comunicação e com o domínio liberal e progressista sobre a mídia, as pessoas vêm sendo bombardeadas, há décadas, com toda a espécie de pensamento libertino, que, com a desculpa da libertação das amarras de um conservadorismo sufocante, conduz as pessoas a apoiarem as práticas mais degradantes. Por isso, cada vez mais o divórcio, o aborto, a promuiscuidade, a insubmissão, o desrespeito e a desobediência são tidos não mais como desvios de comportamento, mas como atitudes saudáveis, necessárias e, muitas vezes, até louváveis.

Os fundamentos da sociedade como a família, a honra e o respeito são, então, destituídos, restando apenas um arremedo social que não possui força própria para se sustentar. É nesse momento que a sociedade fica à mercê dos engenheiros sociais, os quais passam a colocar em prática, contra um povo sem defesa e sem alicerces, suas ideias mais mirabolantes de criação de um mundo ideal, à imagem e semelhança de suas mentes enfermas.

O que vivemos hoje é a transição de uma sociedade baseada na moral cristã e aquela que será o reflexo do anticristo. Por enquanto, nem tudo está perdido, pois ainda há cristãos, ainda há alguma moral e ainda há alguma forma de honradez. No entanto, até quando?

Quando Cristo voltar, se achará fé na terra?

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Não confio em cristãos otimistas II

Não sou um pessimista. A diferença em relação àqueles a quem eu chamo de cristãos otimistas é que minha esperança reside em uma outra referência da existência. Enquanto eles acreditam em uma transformação social, no poder da mobilização, na força da revolução, eu me atenho à esperança no poder da glória que em nós há de ser revelada.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Não confio em cristãos otimistas

Eu não confio em cristãos muito otimistas; e você não deveria confiar também. Também não confio em cristãos realmente esperançosos com as mudanças sociais; normalmente isso já denota quem são. Ainda, não confio em cristãos que acham que a vida é bonita demais; isso demonstra que a não enxergam direito. 

Não escrevo isso como uma apologia do pessimismo. Nem me considero uma pessoa pessimista. Ocorre que não me identifico mais com este mundo. Não dá! Basta olhar com o mínimo de atenção, que podemos ver a militância anti-cristã bem atuante. Nada, neste século, parece ajudar-nos a mantermo-nos firmes com Deus. Pelo contrário, quase tudo é um convite ao inferno.

A alma de um cristão, se realmente for restaurada em Cristo, anseia pela sua revelação, sua glória. A nova vida, liberta da natureza decaída, é sua esperança. O mundo, como hoje se apresenta, corrompido como está, é um incômodo passageiro, suportável apenas. Se há alguma nossa luta exterior, alguma batalha a ser travada, elas não se dão para restaurar o mundo, mas para preservar as almas. O mundo, esta matéria que acompanha o homem, apenas reflete hoje, e refletirá amanhã, o estado espiritual humano. 

Por isso, uma certa inquietude, não um pessimismo. O legítimo cristão carrega a angústia da luta entre a carne e o espírito; também a angústia de não ser mais deste mundo, por ter recebido uma nova natureza; o verdadeiro cristão se vê em Cristo, não mais em Adão. Aqueles que acham que tudo é lindo, que o mundo é um paraíso, que esta existência é maravilhosa e que esta vida é o supra-sumo do que é viver podem ser tudo, menos verdadeiros cristãos.

E repito: não sou do tipo pessimista. Apenas reconheço que minha natureza espiritual se identifica com o céu, não mais com o pó da corrupção. 

sábado, 2 de julho de 2011

Um interlúdio inconveniente

A segunda vinda de Cristo é um fato. No entanto, não é por ser um fato que ela não carregue seus simbolismos. Esses simbolismos, porém, devem ser bem entendidos, a fim de que não seja desrvituado o conceito correto da parusia.

Há alguns dias, circulou na internet um video de uma aula do pastor Ricardo Gondim, na qual ele defendia a volta de Cristo mais como uma utopia do que um fato. Seria ela uma referência, a fim de movimentar o homem à transformação social, à restauração comunitária, para fazer a história.

É óbvio que o vídeo foi motivo de polêmica, afinal esse heterodoxo entendimento vai de encontro à compreensão tradicional sobre o advento do Messias. Por esta, a segunda vinda de Cristo é algo que ocorrerá de fato, o que faz com que a Igreja exclame: Maranata! Vem Jesus!

Acontece que, apesar das críticas contra Gondim, poucos são aqueles que se esforçam para compreender os motivos porque parte dos cristãos se vêem atraídos por uma doutrina que torna algo que sempre foi essencial, principalmente para os reformados protestantes, em apenas uma referência simbólica.

Em primeiro lugar, é evidente que tanto Gondim, como outros pastores e teólogos deste país, são profundamente moldados pelo marxismo. Inclusive essa ideia sobre o advento de Cristo vem de um teólogo marxista chamado Jurgen Moltmann. No entanto, esse é apenas o aspecto final da questão.

O que acontece é que, para certos homens (e aqui é que se encontra a razão principal para eles não enxergarem a volta de Jesus como um fato real), entender esse retorno de Cristo como uma espera, torna a conversão um interlúdio tedioso. Para eles, aguardar a volta do Senhor é uma atitude conflitante com a pretensa responsabilidade de transformar o mundo, restaurar a sociedade, de trazer um reino de paz e fraternidade pela força do braço humano e da conscientização social. Por outro lado, ter o advento como uma utopia não impede a mobilização, a construção de uma nova sociedade e a revolução. O marxismo entra aí apenas como a doutrina materialista fundamental, não como a razão psicológica principal. Esta reside no desejo de tornar aquele compatível com o cristianismo, e isso apenas é possível se a Igreja agir, não esperar.

O que Ricardo Gondim e outros não compreendem é que a bendita esperança bíblica no retorno de Cristo não é uma fuga, nem mesmo uma letargia. O anseio pela volta do Senhor é o clamor natural de uma criatura que teve sua natureza transformada e que, por isso, se identifica mais com o céu do que com a terra. Desde que o cristão se converte, deixa de ser um homem carnal (psíquico) e passa a possuir uma natureza espiritual. Essa natureza é divina, e se identifica com Deus. Essa natureza caminha, a partir de então, em direção à eternidade, enquanto a velha natureza, ainda não destruída por completo, segue seu curso de deterioração. Por isso, possuindo um desejo óbvio pelo que o identifica, o ser espiritual clama pela vinda de Cristo, que é o anunciador e consumador definitivo da transposição de uma vida ainda sujeita ao sensorial para uma plenamente espiritual. Isso não é fuga, isso não é conformismo, nem mesmo resignação. É somente a irresistível natureza manifestando o desejo pelo encontro com aquilo que a identifica: uma vida glorificada ao lado de Deus.

O que parecia tedioso, então, passa, na verdade, a ser um incômodo constante. Esse incômodo, daí, passa a ser um fomentador de uma aproximação cada vez maior entre o homem e Deus. E claro que, de toda forma, isso acaba por ter consequências práticas na vida individual e coletiva. Essas práticas consequentes não são, porém, o espetáculo da transformação do mundo, mas da transformação individual que afeta o mundo. O indivíduo sempre será aquele que sente realmente essa mudança. A sociedade, composta, em sua maioria, por homens carnais, apenas percebe respingos dessas alterações pessoais.

O que há de letárgico nisso? Absolutamente nada! Pelo contrário, o que ocorre é uma inquietação constante, um palpitar insistente, que faz com que o homem comece a viver aqui reflexos, ainda que frágeis, do que viverá depois. Sua alma, seu coração, sua mente e até seu corpo gemem, enfim, toda criação geme e está juntamente com dores de parto até agora.

Para o homem espiritual, a bendita esperança é um incômodo, mas um positivo incômodo, de quem não vê a hora de encontrar-se com o que se assemelha a ele. Para os carnais, ela é nada mais que algo inoportuno: um interlúdio inconveniente.




quinta-feira, 30 de junho de 2011

Os ratos estão roendo

Me espanta o cinismo das mentes privilegiadas deste país. Elas que, em outros momentos, se postaram como guardiãs da lei e da ordem, agora, quando lhes interessa, mantêm um silêncio sepulcral. Mesmo quando a lei máxima é vilipendiada, dissimulam não perceber o que ocorre.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Fome e sede da verdade

Eis que vêm dias, diz o Senhor DEUS, em que enviarei fome sobre a terra; não fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do SENHOR. E irão errantes de um mar até outro mar, e do norte até ao oriente; correrão por toda a parte, buscando a palavra do SENHOR, mas não a acharão” Amós 8.11-12.
O que vemos, nos últimos tempos, é que as pessoas têm buscado, desesperadamente, algo que preencha suas almas, que dê sentido às suas vidas, que sacie a fome e a sede da verdade que elas têm. Ao mesmo tempo, por mais que as cidades estejam repletas de templos, que as rádios e tvs transmitam amontoados de programas religiosos, ainda que a internet possibilite buscar, em um infinidade de pregadores, aqueles que pareçam mais convincentes, ainda assim a sede e a fome persistem.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Entre a besta e a perfeição

O valor de todo homem, a medida de sua estatura, são reconhecidos em suas prioridades, principalmente naqueles assuntos que mais lhe afeiçoam, que são o tema comum de suas parolices. Assim como teu coração reside onde está o teu tesouro, de tua boca ecoa o verbo de tua medida. E esta reflete o tamanho do teu ser. No que tu pensas é o que tu falas, e o que tu insistes em falar demonstra o que te guia. Tu podes ser conduzido pelos céus, pelas maravilhas e pela gloriosa esperança, mas, também podes, como um tronco morto nas águas de um rio, ser levado pela correnteza da pequenez.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

A trindade humana

O homem moderno está partido. Fragmentado pelos seus desejos e dividido pela vida moderna, ele sofre com a incompletude. Quer se achar, mas apenas se debate na insatisfação que o acompanha.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Minha experiência na pós-graduação

Após mais de 10 anos distante do ambiente acadêmico, e agora envolvido com a ministração de cursos teológicos, decidi, a fim de aprimorar meus conhecimentos na área pedagógica, retornar à faculdade e cursar uma pós-graduação. Por falta de tempo e com a ausência de cursos disponíveis na região onde moro, decidi me inscrever em uma faculdade de Curitiba, em um curso à distância. O curso chama-se Docência do Ensino Religioso e por ser ministrado em uma faculdade Batista, sobre um tema ligado à religião, acreditei que, no mínimo, a visão dos professores em relação, não apenas às matérias, mas à própria realidade, não poderia ser tão diferente da minha. Tomei coragem e segui em frente.

O primeiro módulo tratou da própria ferramenta de ensino à distância e, apesar de não ser um assunto tão teórico, nos textos disponibilizados já percebi a tendência construtivista seguida pela escola. De qualquer forma, ponderei que, talvez, aquela fosse apenas uma impressão, afinal, nada estava muito explícito.

Parti, então, para a confecção dos primeiros trabalhos propostos e qual não foi a minha primeira surpresa ao ver que havia recebido a nota máxima em todos eles. No entanto, ao invés de me alegrar, pensei: é provável que eles nem tenham lido os meus trabalhos ou sequer entenderem o que escrevi. Nos textos que entreguei, combati, frontalmente, toda a ideia construitivista que havia transparecido nos textos de estudo. Como os comentários dos professores em relação aos meus trabalhos haviam sido lacônicos, agarrei-me à primeira hipótese. Isso entristeceu-me, pois, claramente, o curso não apresentava a seriedade que eu esperava.

De qualquer forma, não desisti. Segui para o próximo módulo, porém, quase por inércia. A matéria agora era mais específica, mas já estava desanimado o bastante para não dar muita atenção a isso. O módulo chamava-se Docência no Ensino Superior. Mesmo sem motivação, fiz o dois primeiros trabalhos propostos. No entanto, preparei-os desleixadamente, nos últimos 30 minutos do prazo final, em uma lanchonete, enquanto conversava com meus amigos. Apesar disso, estava certo que seguiria recebendo a nota máxima, pois já estava certo que a faculdade só estava interessada no pagamento dos boletos (diga-se de passagem, enviados todos logo no início do curso).

Qual não foi a minha segunda surpresa ao ver que minhas notas haviam sido baixíssimas: 4,0 e 5,0. Ferido em meu orgulho, apressei-me em verificar os motivos para tão vergonhosas notas. Qual não foi minha terceira surpresa ao ver que a professora além de ter lido realmente meus textos, escreveu extensas argumentações justificando as notas. Apesar de ofendido, de alguma maneira senti-me feliz, pois o cuidado na avaliação fez-me ter a sensação de que a escola era realmente séria e que havia uma exigência de qualidade nos trabalhos. Como eu estava consciente de meu relapso ao fazer as tarefas, aceitei as notas, apenas ressaltando que não concordava com alguns pontos levantados pela professora. Prometi, então, que seria mais diligente na próxima tarefa.

E fui! Estudei a matéria, meditei sobre o assunto, li os textos disponibilizados e confeccionei o trabalho. Tomei  o cuidado de manter um padrão acadêmico: citei autores, dei referências aos conceitos e demonstrei que havia estudado a matéria. Estava certo que havia cumprido bem a minha obrigação e estava certo que minhas notas retornariam ao patamar de outrora. Qual não foi a minha quarta surpresa ao ver que havia recebido a nota 6,0! E tal nota não fora dada, dessa vez, por algum problema técnico na confecção do texto, mas por ele não se adequar às ideias trazidas pela própria professora: construtivismo, relativismo etc.

Fiquei indignado e escrevi para ela exteriorizando não apenas a indignação que sentia, mas a minha frontal discordância. Foi, nesse momento, que lembrei-me de um conselho que o professor Olavo de Carvalho havia dado, mais de uma vez, aos seus alunos: que, quando um professor desse notas baixas para ele, simplesmente por não concordar com suas ideias, que esse aluno o expusesse, mostrando, inclusive para os outros estudantes, que esse professor sabe menos que ele. Assim, a partir dali, esse aluno receberia apenas notas altas daquele professor.

Decidi, então, usar o método olaviano de confrontação pedagógica. Nos fóruns e chats do curso não poupei ataques às teorias apresentadas, citando autores que conheço, expondo a fragilidade da ideia construtivista e apresentando algumas alternativas ao monopólio educacional proposto. Qual não foi a minha quinta surpresa ao ver que a professora não fugiu à luta, respondendo a todas minhas intervenções. Isso me foi maravilhoso, pois tive a oportunidade de expô-la quase sistematicamente.

Não colocarei aqui o inteiro teor de todos os debates, por respeito à professora e falta de espaço neste post. Mas colocarei uma síntese das ideias defendidas por ela e que representam bem o que andam defendendo dentro do ambiente acadêmico brasileiro.

A professora insistiu muito na experiência pedagógica como uma relação e, apesar de eu não negá-la por inteiro, discordei profundamente da amplitude dada por ela. Daí, passei a discorrer sobre a questão da verdade, do conhecimento do real, do valor da experiência pessoal, da consciência individual entre outras coisas. Entre as ideias que ela defende, destaco as seguintes:

- A verdade não existe, senão uma última verdade (que ela deu a entender que era Jesus Cristo);
- As outras coisas são apenas aproximação da verdade;
- Mesmo a última verdade só poderia ser alcançada pela fé (a qual, para variar, é algo irracional);
- A realidade é uma construção social;
- O conhecimento deve partir do aluno;
- A didática não é uma técnica, mas uma relação;
- Não há critérios objetivos de avaliação;

Quanto às minhas intervenções, pelas quais apresentei algumas propostas alternativas, apenas o silêncio como resposta. Apesar de a professora não ter sido covarde (e isso expus para ela, apresentando o meu respeito por ela não se esconder atrás de sua cátedra), claramente percebi que fora do âmbito construtivista, no qual ela teve sua formação, nada ela conhece e, por isso, não arriscou expor sua ignorância.

Segui, então, fazendo os meus trabalhos da mesma maneira e defendendo as mesmas ideias dos trabalhos anteriores. Qual não foi a minha sexta surpresa ao ver que minhas notas haviam sido 10, 10, 9,5 e 9,0! Diante disso, apenas posse exclamar:

- Grande professor Olavo! Seu método é realmente infalível!

Apenas uma coisa mais deixou-me incomodado. Nas discussões abertas que tive com a professora, nenhum aluno ousou dar sequer um pitaco. Isso apenas mostra o nível da universidade neste país. Mesmo em um ambiente no qual todas as pessoas são graduadas, formadas nas mais diversas universidades brasileiras, ninguém foi capaz de participar de um debate que, parece, estava bem além de seus universos imaginativos.

Ao fim do módulo, qual não foi minha sétima e última surpresa ao receber um e-mail da professora afirmando que eu era um aluno que todo professor gostaria de ter, que há muito tempo não havia sido tão provocada (no bom sentido do termo) e que todo aquele debate havia sido de grande valia para ela.

Se, no fim das contas, fiquei feliz por ter a minha honra lavada, é muito maior a tristeza por ter agora a certeza, pela experiência própria, que a educação brasileira está em ruínas.

sábado, 30 de abril de 2011

O sapinho surdo*

Todas as pessoas são convocadas a participar da corrida da vida, que promete grandes prêmios para aqueles que chegarem ao objetivo proposto. No entanto, quantos se dispõem a correr? A grande maioria se contenta em manter-se na naturalidade básica de seu ser, como meros observadores da corrida que os outros empreendem. 

domingo, 17 de abril de 2011

Nenhum compromisso com a mediocridade

Não tenho nenhum compromisso com a mediocridade. A simplicidade, muitas vezes, é apenas a desculpa do preguiçoso. Porém, alguém que tenta fazer as coisas de maneira um tanto mais requintada é sujeito à inveja, pois os que não se dispõem a fazer querem o mesmo louvor.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

No site Genizah, Hermes Fernandes escreveu um artigo criticando os cristãos que se colocam frontalmente contra o homossexualismo, chegando a citar um eventual cristão, conhecido dele, que teria afirmado que os homossexuais deveriam morrer e coisas do tipo. Naquele artigo, o pastor afirma, categoricamente, que os que ele chama de puritanos têm os homossexuais como inimigos públicos, e que acreditariam que Jesus, se fosse hoje, não protegeria aquela mulher adúltera que estava para ser apedrejada pelos fariseus.

Bom, todas conclusões tiradas de sua fértil imaginação, já que eivadas de erros de análise; senão vejamos:

1º - Inocentemente, ele confunde crítica à agenda homossexual com ataques contra o homossexual. São coisas completamente diferentes. Os movimentos homossexuais têm um programa de inserção de suas ideias e cultura próprias na sociedade, o que vem sendo implantado há muito tempo. Por meio de filmes, novelas e até do jornalismo, há uma tentativa de fazer com que a sociedade realmente aceite seu modo de vida como algo absolutamente normal, como se esse estilo de conduta não causasse qualquer dano às pessoas e à comunidade. O que muitos cristãos têm feito é apontar o perigo dessa inversão de valores, mostrando os prejuízos físicos, psíquicos e morais que ela acarreta.

2º - Ele ironiza com o alerta dados pelos cristãos sobre o que têm chamado de "ditadura homossexual" - isso se referindo a já tão falada PL 122. Ocorre que qualquer conhecedor elementar do Direito sabe que a Lei, como ela está redigida, cria uma mordaça, impedindo, a partir dela, qualquer referência mais contundente contra a forma de vida homossexual. Se isso não é ditadura, é o quê?

3º - Por ignorância ou deliberadamente, ele reproduz os dados de assassinatos de homossexuais ocorridos ultimamente. Apenas não leva em conta que esses dados são levantados pelos próprios movimentos homossexuais e que são números completamente inchados, pois não consideram o motivo dos crimes, mas apenas as mortes. Ora, se um homossexual morre ele entra para as estatísticas de crimes homofóbicos, ainda que ele tenha morrido por outra causa qualquer. Sem levar em consideração que muitos são mortos pelos próprios parceiros sexuais, o que caracterizaria uma homofobia gay, o que é um absurdo! Portanto, quando ele fala que "a cada dois dias um homossexual é assassinado no Brasil por conta de sua opção sexual" ele mente, consciente ou inconscientemente, mas mente.

4º - Ele dá a entender, ainda, que há uma pregação de ódio contra os homossexuais. No entanto, apenas cita um conhecido seu que tenha falado alguma coisa mais contundente contra eles, ainda assim, pelo que parece, em uma conversa bem irresponsável. Ele não cita, nem poderia citar, nenhum líder cristão, ou pensador cristão, que pregue ou incite ódio contra os homossexuais. Isso é uma irresponsabilidade! Acusação de ódio é coisa muito séria! Falar e não provar merecia um belo de um processo criminal. E não é só ele, mas muitos outros defensores da agenda homossexual fazem isso e ficam impunes.

Eu não sei, e nem me interessa, qual é a motivação de Hermes Fernandes para escrever esse texto. Porém, se não for uma deliberada vontade de favorecer a já bem adiantada agenda gay, ele está servindo como um bom idiota útil para ela.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Sinceramente, não consigo me indignar contra os pastores da chamada Teologia da Prosperidade. Não porque eu acredite que o que eles fazem é certo, ou ache seus objetivos justos. Nada disso! Apenas tenho a convicção de que eles não roubam ninguém. Eles não colocam a mão na carteira de ninguém. Nem mesmo escondem suas próprias identidades, mas, pelo contrário, estão com seus rostos e nomes bem estampados por aí.

Não consigo me indignar porque do lado de cá do púlpito há uma legião de pessoas que está entregando seus bens e dinheiro na esperança de ter um retorno multiplicado do "investimento". Se são otários, não é porque colocam suas posses na mão de líderes ferozes, mas porque acreditam, sinceramente, que Deus vai retribuir-lhes em muito maior quantidade.

Na verdade, não são manipulados pelos pastores, são manipulados pelos seus próprios desejos e ambições. Os pastores são apenas a desculpa, inconsciente, para eles apostarem na sorte, como apostariam na loteria federal ou em uma casa de bingo.

O brasileiro tem o péssimo costume de acreditar que o povo é um pobre coitado, massa de manobra das elites (antes capitalistas) agora religiosas. Besteira! O povo faz aquilo que deseja e acredita no que quer. Bons líderes existem, pregadores justos existem, a Palavra verdadeira é pregada em muitos templos, mas o que boa parte das pessoas quer é a facilidade, o ganho fácil, o retorno.

O problema do brasileiro não é ser bobo, é ser esperto demais. Claro que toda esperteza aguda se transforma, automaticamente, em estupidez. Mas é isso mesmo. Ele quer levar vantagem, ele quer ganhar sem suar, ele quer que Deus lhe entregue a multiplicação de sua confiança.

Os líderes da prosperidade? Apenas descobriram que há clientes para o seu ramo de negócios.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Porque sou contra a Teologia da Libertação

Algumas pessoas não entendem porque me debato contra a Teologia da Libertação e seus adeptos mais modernos. Acham que é apenas por uma questão ideológica e política e, por isso, tendem a interpretar minhas opiniões como se fossem apenas uma expressão política conservadora contra o progressismo dos outros.

No entanto, apesar de haver uma real discordância política de minha parte (mesmo eu não possuindo qualquer ideologia e não sendo adepto de qualquer vertente política definida), a principal razão de minha objeção é muito mais profunda e muito mais teológica.

Posso resumir da seguinte maneira: 

Em nenhum momento os evangelhos ou as epístolas indicam que devemos fazer algum esforço para mudar o mundo, no sentido de criar revoluções e impor nossas ideias de sociedade perfeita sobre as outras pessoas. O que eu aprendo do Novo Testamento bíblico é que, ressurretos em Cristo, somos novas criaturas, que têm ainda, de maneira acidental, o mundo carnal como algo a ser suportado, com todas as suas mazelas e tribulações. Como seres espirituais, o que nos importa, agora, são as coisas do espírito, sabendo que as coisas da carne ainda nos acompanham até que a redenção venha por completo.

Por isso, não quero mudar o mundo, pois sei que um reino messiânico será imposto a todos, não conquistado pelos homens. Também sei que todas as tentativas de impor um mundo melhor, por parte dos homens, acabaram em tragédias e genocídios.

Isso não é escapismo, porque essa bendita esperança não me exime de todas as responsabilidades de amor, trabalho e testemunho que tenho nesta vida. Porém, isso não me faz ser apegado a ela, já que não pertenço mais a ela, desde que me foi dada uma nova natureza em Cristo Jesus.

Isso bate de frente com que homens como Leonardo Boff e Frei Beto acreditam. E também Ricardo Gondim e Ed René Kivitz (para citar ainda dois baluartes da teologia protestante brasileira mais atual).

Eles crêem, sinceramente, que este mundo precisa ser transformado pela força humana, que nós cristãos somos responsáveis por isso e que o amor pelo temporal tem tanto ou mais importância do que o amor pelo eterno.

Bom, cada um ama o que acredita ser o mais importante. Eu, no entanto, ainda coloco toda a minha fé no incorruptível, pois sei que dele não me surgirão frustrações.

terça-feira, 29 de março de 2011

A naturalidade do triunfo da verdade

A história da relação de Deus com o mundo não é a história da luta entre o bem o mal. Erram aqueles que acreditam que há uma batalha e que Deus, pelo fato de ser mais forte que Satanás, vencerá no final. 

sábado, 26 de março de 2011

Humano, não mundano

A despeito do post anterior, diferente de muitos pensadores moderninhos, eu não sou alguém que fica exaltando a imperfeição como algo bonito, algo que nos torna mais "humanos" ou algo que nos faz mais sensíveis. Isso é besteira. Imperfeições são imperfeições e a perfeição sempre é melhor do que a imperfeição.

Há alguns pregadores que exaltam tanto a imperfeição humana que parece que buscar ser melhor, mais puro, mais santo é o verdadeiro pecado. Parece que interpretam as palavras da Bíblia como aqueles homens da igreja primitiva que diziam que deveriam pecar bastante para que a graça de Deus superabundasse sobre eles.

No entanto, Paulo mesmo os corrigiu. Hoje, portanto, esse negócio de exaltar a falibilidade e a imperfeição humanas é simplesmente mundanizar a igreja sob a desculpa de um amor divino.

A limitação humana não é para ser exaltada, é para ser compreendida. Ela também não deve servir como desculpa para os erros, mas explica-os.

Então, deve resignar-se, o cristão, com seus pecados? De maneira alguma! A conformidade com o curso deste mundo não é o ideal do cristão. O que ele deve empreender é uma busca por mais santidade, sim, por menos pecado, sim, por mais pureza, sim. No entanto, deve fazer isso consciente de sua estrutura humana, de sua falibilidade. Assim, empreenderá essa caminhada, não mais crendo que, com suas próprias forças, poderá atingir níveis de conduta irreprensíveis; mas, sim, com a direção do Espírito Santo, crescerá como quem está sendo transformado para se tornar cada vez mais parecido com Cristo.

E a perfeição? É o norte, o objetivo inalcançável, porém que atrai cada vez mais para o que é melhor, tornando o imperfeito cada vez melhor.




sexta-feira, 25 de março de 2011

Consciência da limitação

Percebo, em muitos novos convertidos, uma ansiedade manifesta. Eles acreditam e esperam que um dia poderão atingir um nível tal de espiritualidade que viverão como que à parte dos problemas deste mundo. Crêem que a evolução de suas vidas religiosas terá o poder de arrancá-los das perturbações desta vida e elevá-los a um nível praticamente estóico de existência.

No entanto, infelizmente, essa não é a realidade.

Além de considerar a própria declaração de Cristo, que nada mais era do que uma constatação, de que no mundo teríamos aflições, há algo que também não podemos ignorar: nossa estrutura limitada é a própria causadora de tudo isso. Independente dos poderes angélicos que atuem nos domínios deste mundo, o próprio homem, em sua disposição natural, já enfrenta as tensões não apenas psicológicas, mas inclusive físicas. São impossibilidades, parcialidades, oposições que, por causa da limitação natural, estão impregnadas em sua existência.

Por isso, é necessário ter consciência de que haverá sempre levantes externos contra a nossa sanidade, contra o nosso equilíbrio. Os fatores alienantes também estarão sempre presentes e todo passo para a perfeição é apenas um reconhecimento mais profundo de nossa imperfeição.

Mesmo que fossemos ermitões, sobrariam ainda os próprios conflitos internos, naturais e irrenunciáveis.

Portanto, sábio é ser consciente da estrutura humana, lidando com os fatores opositores não como inimigos externos, mas como caminhos naturais que precisam ser ultrapassados - sempre com muito cuidado.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Mais do que imagina a vã teologia

Basta ocorrer um desastre natural, como esse de proporções grandes que ocorreu no Japão, para, neste mundo interconectado, iniciarem-se as velhas e mesmas discussões. De um lado, os que defendem o controle absoluto de um Deus que determina até os mínimos detalhes da ação humana, de quem nada escapa e que é, no fim, o responsável final por todas as coisas; de outro lado, um Deus impotente, que, por não ter qualquer controle sobre a história do mundo, se surpreende e até chora com as mazelas da humanidade. 

Ora, para mim, sem querer parecer arrogante, como quem se coloca acima dos litígios, tudo isso me apresenta como uma discussão bastante pueril. Fica mais ou menos claro que ambos os lados se apegam a extremos de compreensão que não permitem qualquer tipo de maleabilidade para a atuação divina. Não são apenas os cristãos deterministas que encaixotam Deus, os teístas abertos também. Se aqueles não permitem a Deus qualquer forma de atuação espontânea, fora dos preceitos pré-determinados teologicamente, estes aprisionam a divindade em uma liberdade sufocante, pois se Deus não possui o controle das coisas, é, Ele mesmo, um prisioneiro do destino.

O que eles não percebem é que entre o Deus do controle absoluto e o que chora impotente há muito mais coisas do que imaginam suas vãs teologias.

Ainda vou preparar um texto mais detalhado sobre esse assunto, mas, por ora, já é o suficiente.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Ponha-se no seu lugar

Ao falar sobre consciência em minha última aula, uma aluna parece ter dado a melhor explicação sobre o que é realmente consciência - explicação melhor do que eu mesmo pude oferecer. Disse ela que entendeu o que era quando ouviu, pela primeira vez, alguém dizendo: "Ponha-se em seu lugar!". Isso porque ela sabia exatamente qual era o lugar dela. 

Procurando uma boa definição sobre consciência, esse exemplo talvez seja a melhor ilustração possível. Se ela é a percepção do ser e a identificação do eu, nada melhor do que saber-se quem é e onde está (ou onde deve ficar).

terça-feira, 22 de março de 2011

Definição de consciência

Apenas percebi a dificuldade de conceituar consciência quando tentei fazer isso na minha última aula do curso de Teologia do NEC. Eu sei o que é consciência, mas explicar não é fácil, não. Fui então buscar em alguns livros e percebi que essa dificuldade é geral. Entendo  consciência como a percepção dos dados imediatos, de si, do eu, da diferença, das relações; é a identificação da existência individual. Bom, é o que eu consegui dizer, mas será esta explicação satisfatória? Vou procurar mais e espero poder encontrar uma boa definição.

quinta-feira, 17 de março de 2011

O verdadeiro conservadorismo

"O verdadeiro conservadorismo é o progresso que provém do passado e cumpre o que é bom; o falso conservadorismo é uma limitadora e desesperançada volta ao passado, e que trai a promessa do futuro"

Newman Smith, Christian Ethics

quinta-feira, 10 de março de 2011

O vácuo

Não existe ninguém que não sinta, de vez em quando, a sensação do vazio, da distância, do abandono. Isso porque não somos o tudo, e entre nós e Deus há uma certa separação. Se fôssemos o tudo seríamos Deus, se estivéssemos inseridos totalmente no todo, Deus seria a própria natureza, o que rejeitamos totalmente.


Esse vazio, perceba, é o teu impulso, o teu motor. Como buscar a Deus se já estivéssemos plenamente nEle? Se O buscamos é porque há, sim, alguma separação e, entendo, eternamente haverá. Seremos, sempre, suas criaturas, feitas por um ato inicial seu, que carregam, sim, efeitos diretos de Seu ser. No entanto, jamais seremos Ele, e sempre necessitaremos dEle.


Ora, se há uma necessidade eterna, há, também, uma dependência eterna. E se há ambas há, obviamente, uma eterna separação. Homem algum, de época alguma, pôde se inserir completamente em Deus. Por mais santo, mais puro, mais fiel que seja, sempre haverá um vácuo, um vazio, uma distância.


Bendita separação! É ela que mantém nossos olhos no Pai. Por ela, percebemos que o abismo se encontra logo ali, entre nós e Deus. Não, o inferno não está lá atrás; está, sim, bem ali na frente. E todos caminham em sua direção. O mais irônico disso tudo, é que, de uma maneira ou de outra, esse inferno muitos encontram em seus caminhos em direção a Deus.


O inferno se encontra no fundo de um vale, cercado de um lado pelos homens e de outro pelo paraíso. Os que nele caem, normalmente seguiam para o lar de Deus, mas se depararam com um abismo sem ponte. Largo abismo, e gigante!


Quantos não tentam se achegar a Deus por suas próprias forças. Porém como, se não podem suplantar a distância? Há diversos homens que acreditam em seus caminhos, sua fé, suas religiões, acreditam que podem vencer o espaço que os separa de Deus, mas terminam por descer mesmo ao abismo. 


Isso porque nada pode ser ponte entre nós e Deus. Absolutamente nada! Todas as coisas que existem têm uma limitação intrínseca e não chegam sequer a tangenciar Deus. Onde terminam sua existências não começa a de Deus, mas, sim, o vazio. Deus, às vezes, está logo ali, mas jamais junto. Isso ocorre porque a criatura se estivesse ainda que tangenciando Deus, de alguma maneira se tornaria Ele, o que é impossível.


Há uma distância, irrevogável distância. 


Tristes dos homens que não percebem isso. Sofrem por uma plenitude inalcançável, por uma pureza impossível, por uma unidade com o divino inconcebível. São infelizes porque buscam o salto, o encontro com Deus por meio de um lanço. São petulantes, crendo poder ser um com Deus, sem escalas, sem mediadores, esforçando-se inutilmente por isso.


Entendem então porque Cristo? Ele é a ponte, Ele a ligação possível; e somente Ele.


Ainda há alguma dúvida sobre sua divindade? Pensem: Jesus Cristo é Deus, sim; pois apenas Deus pode ligar-nos a Deus. Todas as outras coisas e pessoas são incapazes disso, intrinsecamente incapazes. Por suas estruturas naturais, estão eternamente separadas do Deus Eterno, não podendo preencher o vácuo, a distância.


Dizem que Cristo morreu em nosso lugar, porque não havia homem algum sem pecado. Não creio nisso. Ainda que houvesse homem sem pecado, não teria este o poder de fazer-nos juntos a Deus. Ainda que puro, seria limitado, naturalmente limitado.


Mas Cristo é Deus. Preencheu a distância sendo homem, possibilitou o encontro sendo Deus. Se fosse apenas homem, o vácuo permaneceria; se fosse apenas Deus não faria a ponte, o contato.


Jesus é a linha que permite o homem tanger Deus. Tênue e maravilhosa linha, que mantém homem e Deus eternamente juntos.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Teólogo, o intérprete da Revelação

Há, tradicionalmente, diversas maneiras de estudar Teologia. Existem os estudos mais doutrinários, aqueles mais sistemáticos, há ainda a Teologia histórica e tantos quantos forem os teólogos, uma nova maneira de estudar Teologia se apresentará. Sendo uma, poderíamos dizer, ciência humana, não se detém em métodos tão rígidos e inflexíveis.

Por isso, quando digo que tenho um jeito próprio de pensar Teologia, não quero, com isso, inaugurar uma nova ciência, menos ainda inovar na doutrina bíblica. O que me disponho a fazer é, simplesmente, estudar Teologia da forma como eu entendo mais verdadeira e honesta.

Conheço diversos estudos teológicos que, a despeito de sua ortodoxia, ignoram a experiência humana ordinária. Com isso, apesar de serem irrepreensíveis em grande parte de suas investigações, apresentam alguns pontos que se tornam inconciliáveis com a realidade, como vista e experimentada pelo homem comum.

Isso sempre me incomodou, pois entendo que a Teologia não é uma ciência no sentido moderno que se dá ao termo. Ela não é uma visão fragmentada, recortando a realidade. Sendo uma ciência que investiga a revelação divina, suas conclusões buscam a conciliação entre a Palavra de Deus e a Realidade. Quando estas, aparentemente, entram em conflito, a Teologia esforça-se por achar a convergência. O que ela jamais pode aceitar é que aquele aparente conflito seja resolvido com um non sense. A resposta teológica deve ser um acordo entre a Revelação e a Realidade ou uma declaração da incompreensão em relação à primeira. O que não deve é insistir na colisão frontal, o que a desonraria tremendamente.

O pensamento teológico é mais do que a organização mental de uma revelação esparsa, mas, sim, a construção intelectual fundamentada nos dados desta revelação. É, portanto, essencial que o teólogo seja um pensador, alguém que não apenas adquire e coordena informações, mas as disseca, as desenvolve, e as interpreta. Um intérprete da revelação! Esta talvez seja a melhor definição para ele.

Sendo, então, um intérprete, seu papel é muito maior do que saber qual é a revelação. É, sim, compreendê-la, entendendo a que ela se refere, onde ela se encaixa na complexidade da realidade e até onde ela estende seus efeitos.

Não é tarefa simples, nem, como escreveu Gregório de Nazianzo, "se trata de empresa fácil, nem própria a quem se arrasta pelo chão". O teólogo carrega sobre seus ombros a dupla responsabilidade de ser fiel à Revelação de Deus e à realidade conhecida. Se fere a primeira torna-se um herege, se ignora a segunda, um tolo.

Portanto, a decisão pela Teologia não pode se dar apenas pelo desejo de conhecer, mas deve ser acrescentada pela consciência do esforço meditativo necessário para se alcançar as respostas às questões levantadas por essa nobre ciência.

domingo, 16 de janeiro de 2011

A dificuldade da comunicação

Há um grande abismo de comunicação entre as pessoas. Por isso, eu sempre recomendo, aos meus amigos, que não se atenham ao que a outra pessoa disse, mas tente captar o que ela quis dizer. 

Parece claro que a maioria dos problemas surge de uma má compreensão do que o outro  quis dizer, o que significa, muitas vezes, uma perfeita compreensão do que ele disse.

Por exemplo, outro dia um amigo disse para outro amigo que sua relação com um terceiro amigo estava destruída. Palavras fortes, mas para quem conhecia o problema sabia que ela não estava destruída, mas apenas suspensa ou interrompida. Há uma grande diferença entre esses termos, e quem ouviu acreditou que havia ocorrido uma grande ruptura entre os dois, quando eles apenas haviam deixado de se falar, sem um motivo específico.

Outro caso foi de um colega que disse para minha esposa que contratava os seus serviços para lhe ajudar, dando a impressão que sua atitude era apenas filantropia. Eu, que acompanhava tudo, percebi que ele queria dizer que contratava minha esposa por confiança não apenas em seu trabalho, mas em seu caráter, e que ajudar significava, naquela conversa, o próprio ato de contratar por confiança, sem preocupação específica da qualidade de seus serviços, os quais ainda não havia sido demonstrada. É claro que minha esposa não gostou do que ouviu, porém, depois de conversarmos, ela percebeu que a intenção do colega não foi tão agressiva quanto parecia.

Se prestarmos atenção, testemunharemos, a todo instante, casos como esses. Com efeito, tudo isso ocorre porque o universo imaginativo anda restritíssimo, e junto com ele o vocabulário tem estado esmagado entre as paredes do mundinho medíocre de cada um. Por causa disso, quando o sujeito tenta se expressar, não raramente lança mão de palavras que, tomadas em seu sentido correto, não possuem o significado correspondente à sua intenção.

A consequência é que a pessoa fala algo que não quis falar, desejando expressar algo diverso. O receptor ouve a mensagem já distorcida e, muitas vezes, lhe dá um terceiro significado. O que resta, portanto, é a confusão.

Minha solução tem sido amenizar ao máximo o significado das palavras alheias, mesmo quando parecem absurdamente agressivas. Isso porque tenho percebido que aparentes agressões verbais têm sido emitidas com intenções bem menos violentas. No que depender de mim, busco ter paz com todos!

Infelizmente, esse é o fruto de um país mal educado, de pessoas sem instrução básica, que tentam se comunicar e apenas conseguem fazer isso com muito esforço e muitos defeitos.

Além do mais, para perceber tais desvios, é necessário estar acima do nível lamentável da educação brasileira geral. Para estes, que já escaparam da elementaridade, resta, portanto, muita paciência e uma boa capacidade de interpretação.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Apenas uma satisfação

Passo aqui apenas para dar uma satisfação aos leitores que regularmente visitam este blog e há exatamente um mês não encontram nada de novo escrito.

Acontece que estou de mudança, movendo meu escritório do Centro da cidade para uma área mais nobre, preparando a inauguração de um sonho antigo: o NEC - Núcleo de Estudos Cristãos.

São tantas providências, tantas obras e tantos gastos!

Mas está quase tudo pronto e logo volto para dar mais detalhes.

Até mais.


Fabio Blanco