Há algo que desagrada a Deus profundamente e este algo é a mornidão. Não sei se vocês já pararam para pensar no que isso quer dizer. Se Jesus diz para a igreja de Laodicéia que, antes fosse ela fria ou quente, mas por ela ser morna, seria vomitada de sua boca, quer dizer que há nesta atitude algo que afronta o caráter divino.
Temos a tendência de imaginar que tal mornidão significaria algo como a atitude de alguém que age sem grande esforço, sem dedicação, participante da obra, mas sem a motivação correta, fazendo tudo de maneira relapsa ou desinteressada. Porém, eu vejo esta atitude não como mornidão, mas como frieza.
Ora, se a pessoa está ali apenas em corpo, se sua motivação não é a verdadeiramente espiritual, se seu coração não está no lugar certo, então essa pessoa é espiritualmente fria. De Deus, ou estamos perto ou estamos afastados. Não há um caminho intermediário. O coração humano ou pertence às coisas celestiais ou às coisas terrenas. Se não é possível servir a dois senhores, também não é possível não servir a nenhum.
O homem frio não serve a Deus, isto parece óbvio. Mas há algo em sua atitude que não atrai tanto a ira divina como a mornidão citada em Apocalipse. A frieza humana em relação às coisas espirituais é passível até mesmo de compaixão. Talvez haja profunda tristeza no coração de Deus por causa do homem que está completamente afastado dele. Não há repulsa, pelo contrário, há um amor não correspondido, no aguardo de uma mudança desse estado de coisas. Deus não repele o que está longe, mas, de todas as maneiras, tenta atraí-lo para o esplendor de sua glória.
Em relação à mornidão, no entanto, há uma reação completamente diversa da parte de Cristo. A quem se encontra neste estado, Ele diz que, em algum momento, o expelirá de maneira violenta, como alguém que repulsa algo que enoja, que faz mal. São palavras fortes que denotam a objeção completa de Jesus em relação ao homem que age dessa maneira.
Porém, considerando o que falamos sobre as características da frieza, a mornidão só pode estar situada em outro estágio que não o do afastamento completo, não o da rejeição, nem mesmo o da ignorância.
Ainda, na frieza não podem estar contidos sentimentos negativos como o ódio, o rancor, a aversão, a incredulidade. Estes não se encaixam em nenhum dos três tipos descritos na Bíblia. Eles fazem parte de outro tipo de atitude que não comum a cristãos, mas sim a adversários de Deus e do cristianismo. Os tipos de Apocalipse são cristãos, inclusive o frio. Então, é a patir disso que devemos compreender as coisas.
O cristão morno, portanto, só pode estar no meio de dois sentimentos, sendo que o pior destes não chega a ser um sentimento negativo. Seria algo não entre o amor e o ódio, mas entre o amor e o descaso, por exemplo. Não entre a amizade e a inimizade, mas entre aquela e a indiferença.
Precisamos encontrar, então, onde se encaixa o perfil característico de uma pessoa morna.
Ora, entre o amor e o descaso não há um sentimento intermediário. Quem ama jamais age com descaso, quem age com descaso não ama. Um meio possível seria o compromisso incompleto, mas isso é descaso do mesmo jeito. É frieza da mesma forma. Não se pode servir a dois senhores!
Entre a amizade e a indiferença não há nada. O amigo nunca é indiferente e o indiferente jamai será um amigo. Qualquer atitude menor que a verdadeira amizade é indiferença, não havendo um meio-termo possível.
Entre a amizade e a indiferença não há nada. O amigo nunca é indiferente e o indiferente jamai será um amigo. Qualquer atitude menor que a verdadeira amizade é indiferença, não havendo um meio-termo possível.
Onde se encontra, então, a mornidão tratada na Bíblia? Se ela não pode ser encontrada no meio de dois sentimentos extremos, então, ela só pode ser uma terceira via, um caminho alternativo que não é nem a do comprometimento apaixonado, nem o do descaso apático.
A característica mais marcante de uma pessoa morna é a covardia.
A covardia acontece com aqueles que estando na obra, crendo na verdade do Evangelho, sabendo que precisam viver intensamente esta realidade, não o fazem por temerem as conseqüências disso. Pois bem, assumir um compromisso com Cristo é uma escolha decisiva, sujeita às benesses maravilhosas da graça, mas também à oposição declarada do mundo. Isso traz para a vida do cristão alegrias indubitáveis, mas também tribulações inexoráveis. Por causa disso, muitos, apesar de acreditarem na verdade de Cristo, não assumem um compromisso de vida com Ele, mantendo-se num imaginário porto seguro, onde acreditam que se manterão a salvo, sem as turbulências da vida. O que não sabem é que enquanto tiverem seus navios atracados neste porto, não poderão herdar o reino, pois para isso é preciso navegar em direção a ele. Amarrados como estão, serão afundados ali mesmo, quando deste mundo não houver mais nada para segurá-los.
Não esqueça que o mesmo livro de Apocalipse afirma que os covardes não entrarão no céu. Ora, esta covardia só pode ser este receio de dar um passo decisivo em direção a Deus. Covardia não é medo. O medo é um sentimento real, em relação a um perigo que pode até ser imaginário, mas o sentimento é real. Quem tem medo acredita que pode ser atingido realmente pelo perigo. A covardia, diferentemente, não. Ela é calculada. Conhecendo as dificuldades, o covarde faz uma escolha: a de não sofrer.
O covarde sabe bem no que acredita, sabe bem, também, quais as conseqüências disso. Então, ele decide se colocar numa posição que crê ser segura. Se mantém perto, atuante, às vezes até em posição de destaque. Mas sempre de uma maneira que possa controlar os resultados.
Por causa disso tudo, o covarde é infiel, já que não pode se manter coerente com o que ele mesmo professa; não é confiável, pois não é certo que ele cumprirá sempre com sua palavra; não é justo, pois a justiça impõe atos de risco; por fim, não ama, pois o amor não se preserva, mas protege o outro.
De qualquer forma, a frieza e a mornidão são estados de pessoas que estão, da mesma, maneira, afastados de Cristo. Com uma diferença: Cristo tem compaixão do frio e buscará atraí-lo para si, já o morno será expelido!
A Mornidão