quinta-feira, 31 de maio de 2012

Não apenas tu

Por quanto tempo ainda permanecerás imerso nas profundezas de teus próprios pesadelos? Abre teus olhos um pouco e vê como todos nos debatemos nesse mar de vida, e todos lutamos para não submergir. Tu acreditas sinceramente que estás sozinho e que a Providência te abandonou. Então, olha ao redor e observa como todos estão lutando; não há ninguém em paz. Lembra-te: no mundo terás aflições. Estas são parte da própria estrutura da existência temporal. Será que ainda persiste a sensação de seres tu o mais desgraçado?

Essa indignação que te acomete é inócua. Ela não altera as circunstâncias e ainda enfraquece teu espírito. Afinal, indignar-te contra fatos é inútil: eles não te ouvem. Contra pessoas é injusto: elas estão tão desnorteadas quanto tu. Apenas Deus restou como possível objeto de tua indignação. Neste caso, prepara-te para receber a resposta que Jó escutou: quem és?

Alguns já tiveram a oportunidade de ouvir isso e minha boca: a arte da vida é equilibrar-se em um fio de nylon. Isto aqui não é o Éden, onde tudo era permitido e favorável. Nesta vida, quase tudo é obscuro, incompreensível. Não há apenas uma árvore do conhecimento do bem e do mal, mas uma floresta de enganos e ilusões. Sabendo disso, conforma-te e mantém teu espírito firmado. Se é assim, e todos experimentam o mesmo, não há porque ver-te abandonado, afligido. Todos nós sofremos as mesmas agruras e partilhamos as mesmas esperanças.

Talvez me perguntes: mas que esperança existe? Repondo, sem vacilar, que naquele que está além desta confusão. Se tu queres entender alguma coisa, firmar-te em alguma coisa, se sentes a necessidade de sentir-te minimamente equilibrado, não podes esperar nada daqui. Neste mundo, tateamos a verdade, esforçamo-nos por afastar as trevas densas do não-compreender, mas o esforço é hercúleo. Os resultados: pífios.

Nesta existência presente, não há respostas definitivas no plano horizontal. O que sabemos hoje, pode ser abandonado amanhã. A grande conquista do presente, pode ser esquecida no futuro. Essa é a nossa essência material, e essa é a ciência humana. Somente há respostas eternas se elas vierem da transcendência. Não que não façamos parte naturalmente dessa eternidade, mas afastamo-nos, fomos expulsos dela, lembras?

Não te lamentes demais. Aprende a compartilhar o que não se corrompe. Apenas isto tem realmente valor. Quando compreenderes essas coisas, verás que teus danos não são tão fatais, teus medos não tão reais e tua desesperança infundada. Quando entenderes que o Reino de Deus está em ti, saberás o que eu te digo.